A Vírgula d’Interrogação foi criada para trazer um novo fôlego ao mercado literário que, enquanto leitores, nos parecia maioritariamente bege: repetitivo, uniforme e fechado.
Esse trabalho de disrupção quer-se em várias vertentes do trabalho editorial, algumas das quais estamos já a desenvolver.
– Rompemos com a forma do livro: com a criação do conceito de Poesia Gráfica e com a coleção de livros de terror clássicos.
– Abrimos espaço dentro do género enquanto oferta, quando abrimos um espaço apologético para o terror em Portugal com a chancela Barca.
Mas não chega.
Sabemos que, como nós, muitos outros leitores também clamam pelo muito de bom que é produzido e não chega até nós. Leitores interventivos, criadores de dinâmicas literárias, associados ao trabalho livreiro como consumidores e, muitas vezes, como trabalhadores dentro do mesmo. É aqui que nasce o Cluster.
O Projeto Cluster floresce da vontade de oferecer espaço a obras importantes, trabalhos que marcam pela mensagem, forma ou género e que não viriam até à língua portuguesa por outras mãos. Enquanto ganhava forma, percebemos que nos faria sentido abrir a Vírgula d’Interrogação. Dar palco e espaço de trabalho a tantos que querem concretizar uma mudança, mas que não têm recursos para tal.
Assim, o Projeto Cluster continua o nosso trabalho de disrupção com a oferta de palco, de trabalho para leitores que têm uma visão diferente para o mercado literário português e que são capazes de trabalhar para essa mudança. Com isto conseguimos também oferecer lugar a profissionais da área, assegurando experiência e visibilidade.
É com estas linhas que se desenhou o que agora tem forma.
O Projeto Cluster assenta num elemento-âncora, alguém convidado a trabalhar conosco para a publicação de um ou dois volumes, selecionados por si. A escolha dos títulos a serem trabalhados é do elemento-âncora, assim como toda a equipa contratada: tradução, revisão, paginação, capa.
A possibilidade de reunir a equipa que quer, e a liberdade necessária para o fazer, permitem a cada elemento-âncora a experiência completa na gestão e edição nesta área, e torna cada livro uma obra de amor, empenho e entusiasmo. É uma energia maravilhosa.
A escolha de um elemento-âncora assenta em duas premissas: a pessoa escolhida deve ter experiência ou formação dentro da área de edição e deve ser uma voz inconformada no meio. Achamos que estas são as características fundamentais para assegurar que o projeto funcione e que cumpre o objetivo para que foi criado.
Neste momento, contamos com três Projetos Cluster em fases diferentes de trabalho.
– O primeiro elemento-âncora, Elga Fontes, terminou o projeto com a publicação do segundo volume (publicamos “Sempre Estivemos Aqui” e “A Criança no Sótão”).
– O segundo elemento-âncora, Filipe Heath, está a lançar o primeiro volume do projeto, “Miss Major Fala” e a trabalhar no segundo livro escolhido.
– O terceiro elemento-âncora irá trabalhar um género completamente diferente —ficção weird — e irá publicar os títulos selecionados em 2026.
O Projeto Cluster é a materialização de um sonho, a prova de que o trabalho em edição pode ser reinventado e alargado e que, dessa expansão, brotam livros que salpicam de cor a monotonia do mercado.