«Queres coordenar uma chancela de terror?», perguntou-me a minha esposa, no mesmo tom com que me pergunta se quero levar almoço para o trabalho.
A resposta foi «sim», mas temo que a pergunta fosse a pergunta errada. Talvez ela quisesse perguntar se eu “conseguia” coordenar uma chancela de terror. E, se a pergunta tivesse sido essa, o «não» teria sido mais perentório do que foi o «sim».
Se me faltam os pergaminhos para este trabalho, sobra-me o medo, tanto medo, e talvez não haja melhor combustível para esta embarcação.
A motivação também ajuda, e essa vem do prazer em ler livros que me sobressaltem e de algo negro que se foi intrometendo na minha escrita empurrando-me suavemente para um género que me acolheu.
Sei o que quero fazer com a Barca, sei para onde a gostaria de levar e não me iludo em relação às águas que atravessamos.
Quero que os clássicos ressurjam e persistam nas estantes, rodeados pelas histórias que os sucederam. Quero trazer os autores e as histórias internacionais que tardam a chegar a Portugal. Quero que os leitores saibam quantos e quão bons são os escritores de terror nacionais.
Começamos com “Carmilla”, uma história da qual tantas outras brotaram e na qual tantas outras cravaram as presas. Apresentamos-vos uma nova tradução, de Marta Nazaré, com o trabalho gráfico de Isa Silva. Leiam e bebam da maravilhosa escrita gótica de Sheridan Le Fanu, bebam e deleitem-se com o sangue imortal de “Carmilla”, numa edição que vão querer levar para o caixão.
Gostava muito que se juntassem a nós, com o mesmo medo e entusiasmo que nos move.
Venham.
A água está ótima.